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O astro bicampeão olímpico brasileiro

Eliana Alves Cruz

Até aquela terça-feira, 27 de novembro de 1956, nunca na história do esporte brasileiro alguém havia posto duas vezes a medalha de ouro olímpica no peito. O paulista Adhemar Ferreira da Silva, aos 29 anos, ganhava pela segunda vez o ouro nos Jogos Olímpicos, na prova de salto triplo. E foi com emoção. Mais de 90 mil pessoas no estádio de Melbourne, na Austrália, viram a passada larga de Adhemar atingir a marca de 16m04 e ganhar a dianteira no segundo salto, perder na terceira tentativa para o islandês Vilhjalmur Eirnasson, que chegou a 16m25; até finalmente pisar na terra pela quarta vez com o recorde olímpico de 16m35 definindo sua vitória. Ninguém chegaria perto nas duas últimas séries de saltos e este seria o único pódio brasileiro naquela edição dos Jogos.

Os jornais australianos apelidavam de “o canguru brasileiro” o atleta que chegava a

Melbourne como recordista mundial e com a vitória da mesma prova na edição

anterior, em 1952 na finlandesa Helsinque. Um campeão olímpico que trabalhava

em tempo integral, fumava um maço de cigarros por dia e começou seriamente no esporte,

aos 19 anos, é algo impensável nos dias atuais. Adhemar trabalhava no jornal

“Última Hora” e na prefeitura de São Paulo, de onde foi dispensado pelo prefeito

Jânio Quadros devido à necessidade de viajar para competir.

 

Mas vamos voltar no tempo para ver o filho de uma lavadeira e de um ferroviário que

começou a carreira na prova tardiamente, quando assistia por pura

curiosidade um treino em São Paulo, no estádio do Canindé. O jovem de 1,78m, que

apenas treinava salto em altura e em distância, um dia decidiu ir ao clube em sua volta

do trabalho e se espantou ao ver o atleta Ewald Gomes da Silva fazer algo diferente de tudo que já vira: o salto triplo.  Adhemar então pediu ao colega que lhe ensinasse aquilo.

 

- “Você vem correndo, bate o pé na tábua e com o mesmo pé você cai, já dando o impulso para o outro, troca de perna e termina com os dois pés no tanque de areia. Entendeu?" - perguntou Ewald.

 

Em sua primeira tentativa ele fez 12m90, algo admirável para quem estava experimentando pela primeira vez. Os novatos não passavam de 11m. O treinador alemão Dietrich Gerner, seu técnico até o fim da carreira, o auxiliou a tornar-se campeão paulista apenas três meses depois e a não parar mais de conquistar títulos.

 

                                                                  No ano seguinte, em 1948, Adhemar participou de sua primeira Olimpíada, em

                                                                  Londres, e terminou em oitavo lugar. Em 1950 quebrou o recorde mundial com a

                                                                  marca dos 16,01m. Adhemar reinou absoluto na modalidade pelos nove anos

                                                                  seguintes, além de bicampeão olímpico (1952 e 1956) e tricampeão pan-americano

                                                                  (1955, 1957 e 1959).

 

                                                                  Em 1955 atingiu a melhor marca de sua carreira: 16m56, no Pan-Americano do

                                                                  México. No mesmo ano deixou o São Paulo, clube em que começou sua carreira e

                                                                  se mudou para o Rio de Janeiro, onde passa a treinar no Vasco. Apesar de ser um

                                                                  medalhista olímpico, Adhemar sempre foi amador e não recebia para treinar,

                                                                  mantendo outros empregos. Na capital fluminense cursou educação física e

                                                                  trabalhou no serviço de Recreação Operária do Ministério do Trabalho. 

O clube carioca contratou o campeão e em 1956 ele conquistou sua segunda medalha de ouro olímpica. 

 

Em 1959 Adhemar participou do filme Orfeu Negro, de Marcel Camus, que venceu o Oscar de melhor filme estrangeiro. Despediu-se dos jogos olímpicos em 1960, alcançando a 11ª colocação. Descobriu depois que seu desempenho declinou devido a tuberculose.

 

Durante toda sua vida teve quatro profissionalizações: escultor; pela Escola Técnica Federal de São Paulo, educação física pela Escola do Exército; direito, pela Universidade do Brasil; e Relações Públicas, pela Faculdade Cásper Líbero.

Terminou sua vida morando na capital paulista, onde organizava competições de atletismo. Morreu em 2001 vítima de uma parada cardiorrespiratória.

 

Adhemar Ferreira da Silva está no Hall da Fama do atletismo mundial e para sempre no panteão de heróis olímpicos brasileiros.

 

Adhemar nas Olímpíadas: Londres 1948 – 8º lugar / Helsinque 1952 – ouro / Melbourne 1956 – ouro / Roma 1960 – 11º lugar

ADHEMAR FEREIRA DA SILVA

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