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Foto: Reuters

TAKE A KNEE!

Fique de joelhos!

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Eliana Alves Cruz

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E a cena se repetiu no último domingo, 8/10. Mal tocaram as primeiras notas de Star-Spangled Banner (A Bandeira das Estrelas) - o hino nacional americano - e vários jogadores do San Francisco 49's se ajoelharam. Os atletas negros do futebol americano vêm repetindo o gesto – que foi logo nomeado de “take a knee” (fique de joelhos) - para denunciar a injustiça racial nos Estados Unidos, desde quando Colin Kaepernick, antigo quarterback dos 49's o iniciou, em setembro deste ano.

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Nas arquibancadas do estádio de seu time de coração, o Colts de Indianápolis, o vice-presidente americano Mike Pence saiu indignado, em companhia da esposa. O presidente Donald Trump fez mais. Em sua conta nas redes sociais chamou de “filhos da puta” os jogadores que fazem este tipo de protesto: “Isto não tem nada a ver com raça. É apenas uma questão de respeito por nosso país e nossa bandeira”, afirmou.

 

Trump conclamou um boicote da NFL (a Liga de Futebol Americano, o esporte mais popular nos EUA) se não proibisse que os jogadores fizessem o gesto de se ajoelhar. O ex-presidente Barack Obama, primeiro presidente negro dos Estados Unidos, reconheceu “o direito constitucional de protestar” e disse que o alvo do protesto era “algo real, um problema legítimo que merece ser discutido”.

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Este foi apenas mais um capítulo de uma guerra que parece estar longe de acabar. Ativismo e esportes é uma mistura bombástica que explode nas arenas sob a bandeira americana há muito tempo. Quem não se lembra de Tommie Smith e John Carlos com os punhos cerrados dos Panteras Negras, no pódio dos Jogos Olímpicos do México, em 1968? A história não começou e muito menos se encerrou ali.

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Smith e Carlos eram atletas militantes pelos direitos civis e assumiram as consequências do enfrentamento. Perderam suas medalhas, receberam um sem número de ameaças de morte, a mãe de John faleceu vitimada por ataque cardíaco e consequência da pressão que sofriam dos fazendeiros brancos, recebiam ratos mortos e fezes pelos correios.

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Voltando ao ano de 2017, Colin Kaepernick agora está desempregado e sem a equipe que o queira contratar – de acordo com seus defensores como castigo por seu ativismo, segundo outras vozes por seu baixo rendimento na temporada anterior.

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A imagem de atletas tão poderosos agachados no chão surte o efeito que pretende causar. A mensagem direta de humilhação, dominação e impotência. A referência quase automática ao período da escravidão é a ironia agressiva e potente, que tem se mostrado mais forte que qualquer discurso.

 

Ajoelhar-se é um gesto que grita.

(Foto: AP Photo/Michael Conroy)
Jogadores dos Ravens se ajoelham durante a execução do hino neste domingo. MATT DUNHAM AP
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