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As (cubaníssimas) negras do Caribe!

Manuella Yasmin e Eliana Alves Cruz

Poder, orgulho e força. Nos anos 90 uma nação reinou nas quadras femininas de vôlei: Cuba. A equipe misturava raça e habilidade, e uma incrível auto-estima. Na final do Mundial de 1994, entraram em quadra com o cabelo “todo arrumado” porque sabiam que iam sair dali direto para a comemoração da vitória, segundo a ex jogadora da seleção brasileira Virna, que foi vice de Cuba, no estádio paulista do Ibirapuera naquele ano.

No comando do time estava o lendário Eugênio George – eleito o melhor técnico de equipes femininas do século 20 pela Federação internacional de Vôlei e falecido em 2014 - e dentro de quadra a seleção contava com nomes não menos míticos para a modalidade como Mireya Luis, Regla Bell, Aguero, Yumilka Ruiz, e a dupla Regla Torres e Magaly Carbajal que eram verdadeiros “muros” no bloqueio.

VOLEIBOL FEMININO

Mireya, a pedra no sapato das brasileiras que fizeram uma geração de atletas talentosas como Fofão, Ana Moser e Virna, hoje é a coordenadora nacional das seleções nacionais de vôlei de quadra e praia e faz um trabalho para levar Cuba de volta à elite do vôlei mundial. Ela e Ana Moser protagonizaram uma briga famosa, após a derrota do Brasil nas semifinais dos Jogos Olímpicos de Atlanta 1996, em que os dois times chegaram a se agredir fisicamente.

- Agora sou amiga, não há ressentimento, nem nada. Eram sentimentos somente do esporte, nada pessoal. Para mim, as jogadoras do Brasil, pelas quais sinto grande respeito e carinho, estão entre as pessoas que mais gosto. Sou cubana, mas quando estou com as brasileiras me sinto parte delas. Depois disso, abracei a Virna, Ana Moser, Leila, e sentimos uma coisa muito boa – disse ao G1, por ocasião dos Jogos Pan-Americanos de Toronto 2015.

Uma equipe feminina, forte, robusta, recheada de talentos e um treinador considerado o melhor do século XX. Tão respeitadas eram que chegaram a ser consideradas como uma categoria a parte do vôlei mundial. Certa vez, o ex-jogador da seleção brasileira Nalbert revelou uma brincadeira entre os atletas. Eles diziam que existiam três categorias no vôlei: o feminino, o masculino e o cubano.

Com títulos de fazer inveja a qualquer seleção, as meninas do vôlei cubano da década de 90, eram guerreiras e vitoriosas dentro e fora de quadra. Não fizeram caso do bloqueio econômico imposto pelos americanos desde os anos 50, que levava (e, todavia leva) imensa dificuldade financeira ao país. Foram tricampeãs olímpicas em 1992, 1996 e 2000; ganharam dois títulos mundiais nos anos de 1994 e 1998 e venceram a Copa do Mundo nas quatro chances seguidas que tiveram: 1989, 1991, 1995 e 1999. Essa seleção não estava para brincadeira!

O Brasil até chegou a se aproximar das morenas del Caribe, apelido que, apesar de bem intencionado, mostra muito do racismo velado, pois Mireya Luis e Cia são negras e nunca esconderam o orgulho de suas origens. Com dificuldade de conseguir coisas básicas, a amizade entre Brasil e Cuba no vôlei rendeu até troca de favores. As brasileiras chegaram a levar para os torneios joelheiras, esmaltes e maquiagens em troca de charutos, que era o que as rivais tinham.

 

Nos anos 90, com a entrada técnico Bernardinho na seleção brasileira, o jogo endureceu. Por achar que a relação fraterna estava invadindo os jogos e prejudicando os resultados, proibiu as atletas de confraternizarem com as adversárias antes das partidas. A medida ajudou a criar o clima de disputa que, assim como antes acontecia com a confraternização, extrapolou o limite das quadras. Depois disso a relação entre os dois times nunca mais foi a mesma, mas o Brasil volta e meia faz intercâmbio em terras cubanas e, com o crescimento do time verde e amarelo e suas conquistas olímpicas e mundiais, jogadoras brasileiras já são referências para jovens cubanas.

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