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Projeto de educação pelo esporte transforma realidade de jovens da Baixada Fluminense

Justamente quando o golfe volta às Olimpíadas como esporte oficial e no Brasil, o Japeri Golfe, projeto social que mantem o primeiro campo público do país, e já treinou mais de 400 crianças e jovens da periferia em um dos esportes mais elitistas do mundo, completa 15 anos de boas tacadas. Criada em 2001, a Associação Golfe Público de Japeri - AGPJ nasceu do sonho de um grupo de jovens caddies – carregadores de taco – que trabalhavam em um clube da elite carioca e moravam na Baixada Fluminense. Depois de terem convencido o prefeito de Japeri e de ganhar a simpatia de dirigentes da Federação de Golfe do Estado do Rio de Janeiro, o sonho virou realidade. 

 

Com apoio da FGERJ e do R&A (Royal & Ancient Golf Club of St. Andrews, entidade máxima de golfe no mundo), foi construído o primeiro campo público de golfe do Brasil, e, logo em seguida, fundada a primeira Escola de Golfe para crianças e jovens em situação de risco social. O projeto tem transformado a vida de centenas de meninas e meninos, a maioria negros e de famílias pobres, em um dos municípios com o mais baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) do Estado. 

 

                                                                 Entre esses jovens está Breno Domingos, 19 anos, filho de um pintor e uma dona de casa, um

                                                                 dos alunos mais promissores e tão dedicado que ganhou, de um patrocinador, uma bolsa integral

                                                                 para ingressar em uma universidade particular no curso de Engenharia Civil. “Se não fosse o golfe,

                                                                 eu não estaria na faculdade. O esporte é minha segunda família, mudou meu jeito de ser e me

                                                                 trouxe muitos amigos”, comemora Breno, cujo ídolo é o campeão americano Jordan Speith. Antes

                                                                 de ingressar no projeto, o jovem não havia saído do município de Japeri. Graças aos bons

                                                                 resultados em campo, Breno já foi convidado pela Confederação Brasileira de Golfe a participar dos

                                                                  principais torneios nacionais e conheceu várias cidades, Brasil afora. 

                                                                  O jovem fechou 2015 como primeiro do ranking estadual.

                                                                   

 

Cristian Barcelos, 21 anos, já está na Escola de Golfe há dez anos. Graças ao desempenho, foi premiado com uma semana de treinamento na Flórida, na David Leadbetter Golf Academy, uma das melhores clínicas de golfe do mundo. Competiu em Miami no Junior Orange Bowl e entrou para o ranking mundial de golfe, representou o Brasil no campeonato internacional em Portugal e foi convocado para jogar em dois campeonatos internacionais no Chile. Hoje, Cristian continua treinando forte e participando de competições, representando o Japeri Golfe, mas também integra a equipe de treinadores dos jovens golfistas do projeto. “Sou negro e da periferia, igualzinho ao Tiger Woods (risos), e se sei que posso chegar longe. É difícil jogar no Brasil no nível dos melhores do mundo, tanto é assim que os representantes brasileiros nas Olimpíadas moram no exterior. Mas eu não posso reclamar de falta de apoio e oportunidade”. 

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Treinar em um esporte que além de elitista não preza nem um pouco pela equidade de gênero – basta saber que apenas em 2015 a R&A aceitou as primeiras mulheres como sócias – não é nada fácil para as meninas. Mas em Japeri essa questão foi resolvida desde o início das atividades. “Aqui, meninas e meninos treinam juntos, sob as mesmas condições e oportunidades iguais”, garante Jair Medeiros, um dos fundadores do projeto. 

 

Prova de que na Baixada Fluminense o golfe não é um clube do Bolinha é o desempenho de Vitória Monteiro, 17 anos, que desde pequena no projeto, já se destaca nas competições femininas. Séria e tímida, ela revela que chegou à AGPJ em 2008, acompanhando o pai, contratado para capinar o campo de golfe. Ao vê-la, a diretora do projeto, Vicky Whyte, pediu ao pai da menina para deixá-la treinar naquele mesmo dia. “Estou aqui até hoje. O projeto mudou a minha vida. Conheci lugares, melhorei meu comportamento e minhas notas na escola e hoje estou bem colocada nos rankings”. 

Thuane Oliveira, 18 anos completados em agosto, também não fica atrás. Aluna do Japeri Golfe há seis anos, é filha de pai pedreiro e mãe agente comunitária, e já deu suas tacadas em terras internacionais. A jovem já foi chamada pela Confederação Brasileira de Golfe para representar o Brasil e jogar no Campeonato Sul Americano Pré-juvenil, no Paraguai. Atualmente é integrante do Time Brasil de Golfe, que reúne os 30 melhores jogadores juvenis do país.  

 

Vale lembrar que estas histórias de superação têm como cenário um município que coleciona deficiências em áreas vitais como a saúde, habitação, educação e cidadania, isso sem falar nos altos índices de violência e de alcoolismo predominantes. Na região, trabalho com carteira assinada é artigo de luxo e a maioria das famílias vive de bicos ou como ambulante no trem que liga a região ao Centro do Rio de Janeiro, a 50 minutos de Japeri.

 

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O início

 

Tudo começou quando o então garçom Jair Medeiros, nascido em Japeri, foi convidado a fazer um

teste para atuar como caddie no Gávea Golf Club. Aprovado, foi trabalhar no clube nos finais de

semana. Não demorou, porém, a trocar de profissão. Durante os anos em que foi caddie, convidou

amigos e vizinhos a compartilharem da atividade. Em pouco tempo, o clube passou a empregar

35 profissionais de Japeri. Em 1994, o grupo realizou o primeiro torneio amador de golfe só de

caddies, entre as vacas de um pasto, onde passaram a treinar nos horários livres. Jair

encontrou um terreno da Prefeitura de Japeri, com 70 hectares – correspondentes a

70 campos de futebol – e passou a cobrar do prefeito o uso da área “para fins esportivos”, por

parte dele e de seus colegas.

 

O caddie, hoje com 45 anos, procurou a então presidente da Federação de Golfe do Estado do

Rio de Janeiro, Vicky Whyte, e expôs seu projeto para que ela ajudasse a viabilizá-lo junto ao

prefeito. A relação de Vicky com o golfe é muito antiga: ela é filha do americano naturalizado

Brasileiro Seymour Marvin, um dos fundadores da Associação Brasileira de Golfe, que deu

origem à atual Confederação Brasileira de Golfe. Ela é a única representante da América Latina

– e uma entre as poucas mulheres do mundo – a integrar o quadro de sócios da entidade

máxima do golfe mundial, o R&A e já foi vice-presidente da GBG. 

 

Empolgada com a ideia, Vicky convocou uma assembleia extraordinária com todos os clubes ligados à federação, para que fosse votada a proposta de construção do primeiro campo público de golfe do país. Em 2001, Jair Medeiros e Vicky Whyte criaram a Associação Golfe Público de Japeri, uma entidade sem fins lucrativos. Com a ajuda de patrocínios nacionais e internacionais e apoio da R&A, o terreno começou a ser preparado, de acordo com as exigências técnicas do esporte, já com características olímpicas e status de oficial. Logo após a inauguração do campo, o grupo à frente da AGPJ sentiu a necessidade de ir além e implantar um projeto social para uso efetivo por parte da comunidade. Assim foi criada a Escola de Golfe para crianças e jovens em situação de risco. 

 

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Esporte e educação 
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Hoje, o projeto vai muito além das aulas de golfe e tem um trabalho maior de tirar as crianças das ruas por meio da prática esportiva e também de proporcionar um convívio em um ambiente saudável, de educação e de cidadania. Os alunos do projeto também recebem preparação física, uniformes, tacos, lanche, assistência dentária, cestas básicas, aulas de reforço escolar, inclusão digital, e a oportunidade de viajar para competir em outros estados e países. O trabalho da AGPJ abrange também o direito à cidadania que prevê orientação e encaminhamento para a aquisição de documentos como certidão de nascimento, título de eleitor, certificado de reservista, carteira de trabalho, atendendo à população da região e não apenas às famílias assistidas pela escolinha. As aulas bem como as demais atividades socioeducativas desenvolvidas são totalmente gratuitas e a única exigência para que a criança participe é que ela esteja estudando em uma escola da comunidade e com rendimento escolar satisfatório. A avaliação escolar é feita trimestralmente, mas os instrutores de Japeri estão em contato permanente com os professores da escola formal, a fim de acompanhar de perto o rendimento escolar de cada aluno da Escola de Golfe. 

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Preservação do meio ambiente 

 

O projeto assume um caráter ambiental e ecológico. O campo de golfe está situado em uma área verde de quase 70 hectares, que exige a preservação da natureza, da biodiversidade e das espécies nativas próprias da região. É uma forma de valorizar o meio ambiente, criando uma espécie de “Santuário Ecológico”, de acordo com as leis e normas ambientais vigentes no país. Para preservar a área, a AGPJ adota métodos contínuos de monitoramento e trabalha a consciência ambiental das crianças e jovens através do curso Agentes Mirins Ambientais. O objetivo é despertar a consciência ecológica e mostrar a importância da preservação do meio ambiente para os alunos do projeto, e estimula os alunos a serem fiscais do meio ambiente, no dia a dia em casa, na escola e no campo. O curso é ministrado por um perito ambiental e mostra, com uma linguagem simples e didática, a importância de práticas como a reciclagem e o reaproveitamento para a permanência da vida no planeta. 

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Boas tacadas dentro e fora do campo 

 

Japeri tem hoje entre seus alunos alguns dos melhores golfistas amadores do país – sete deles classificados no ranking nacional – já representou o país no campeonato mundial juvenil mais importante da categoria, o Jr. British Open, na Inglaterra, além das participações em campeonatos internacionais em Portugal, Chile e Estados Unidos. Ainda que os resultados em campo sejam valiosos, formar campeões não é o único e maior objetivo por ali. A grande maioria dos alunos da Escola de Golfe apresenta melhorias em termos de comportamento e de desempenho na escola. O incentivo aos estudos é uma prática que caminha junto ao treino no campo e que tem trazido bons resultados acadêmicos. 

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Rankings da CBG 

 

Estadual:

- Cristian está em 2º lugar na categoria masculino geral.

- Breno Domingos – 3º lugar no masculino geral.  

- Matheus Ventura – 1º lugar na categoria juvenil.

- Tiago Ventura está em 1º lugar na categoria pré-juvenil (até 15 anos).

- Thuane Oliveira – 2º lugar no feminino geral. 

- Vitória Araújo – 2º lugar na categoria juvenil e em 4º lugar no feminino geral.

 

Nacional:

- Thuane Oliveira está em 5º lugar no feminino geral. 

- Cristian Barcelos está em 7º lugar na categoria masculino geral.

- Vitória Araújo está em 9º lugar na categoria juvenil.

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*Colaboração da Gesto Comunicação – Lilia Giannotti

Japeri Golfe completa 15 anos durante as Olimpíadas 

Cristian Barcelos
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