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Arena Mundo

Eliana Alves Cruz

 

O Instituto de Segurança Pública divulgou no último dia de junho os números de homicídios cometidos por policiais no mês anterior, maio. Com os Jogos Olímpicos batendo à porta, só há uma coisa a declarar, como se diz por aí, “a chapa tá quente”. Como uma prova de atletismo ou de natação em que os competidores partem antes da hora, aqueles que são pagos pelo estado para nos proteger  estão   “queimando a largada” na corrida por justiça.

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Qualquer suspeito passa desta condição a de sentenciado a morte numa fração de segundos. Num piscar de olhos que estão atrás da mira de um fuzil. Inacreditavelmente, no contexto dos Jogos Olímpicos, a violência policial e outras agressões aos direitos humanos estão numa escalada vertiginosa, que apontou em maio 40 homicídios em conseqüência de intervenções policiais. Um aumento de 135%, se consideramos que no mesmo período, em 2015, foram 14 mortos. Em todo o estado do Rio de Janeiro, houve um aumento de 90%, pois o número saltou de 44 para 84 homicídios.

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Os números acima foram relativos a maio. No entanto, até o dia 24 de junho, mais 23 pessoas foram assassinadas... Uma conta macabra que manchará de sangue o quadro final de medalhas. E agora a gente mete a mão num vespeiro. Semana passada, comentamos sobre a Carta Olímpica e todo o seu conteúdo humanitário. Tudo ótimo, mas de que vale se para que o mega evento em que os Jogos Olímpicos se transformaram aconteça, o caminho tomado é o extremo oposto ao que ela propõe? O que fará o COI para não deixar a partida descambar tão explícitamente para a hipocrisia?

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Um dia antes do relatório do ISP, o diretor de relações públicas e desenvolvimento social do COI, Philip French, reuniu-se com Maria da Penha Macena, moradora da comunidade Vila Autódromo, com Ana Paula Oliveira, cujo filho foi morto pela polícia em Manguinhos, e representantes do Rede Nosso Jogo – Initiative für globales fair play, Terre dês Hommes e da Anistia Internacional Brasil. A conversa foi sobre as violações de diretos humanos no contexto dos Jogos Olímpicos.

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Philip ouviu a descrição de Maria da Penha, sobre como as 600 famílias da Vila Autódromo foram expulsas, como foram agredidos fisicamente e suas casas demolidas. Todos relataram as violências sofridas e dores profundas que ficarão como feridas abertas para sempre, mas cobraram vigilância do COIS para que as promessas de urbanização sejam cumpridas para as 20 famílias restantes e, principalmente, que tomem todas as medidas para que mais violações e execuções não ocorram em operações policias antes e durante os Jogos.

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Os Jogos Olímpicos representam o sonho de milhões de atletas, técnicos e profissionais do mundo inteiro. Pessoas que dedicam suas vidas a disciplina de treinos aperfeiçoando técnica, fortalecendo a mente e, principalmente, a cada competição ao longo do período de quatro anos que separa uma edição olímpica de outra, mostrando a crianças e jovens do mundo inteiro valores baseados em igualdade, superação dos limites e trabalho. Definitivamente, a violência não faz parte deste jogo.

A chapa esquentou. Queimou a largada

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