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Neguinhos

Ricardo Pessanha

 

Há milhares de negras e negros de destaque na música e no esporte brasileiros, mas nem tantos neguinhos e neguinhas. Na música, tem o neguinho que faz Upa na canção de Edu Lobo com o Gianfrancesco Guarnieri, tem aquele que o Marcelo D2 questiona perguntando Qual é, tem o neguinho do pastoreio, do folclore gaúcho e da toada de Joyce e Sílvia Sangirardi, tem o que gostou da filha da madame, do samba de Noel Rosa de Oliveira e Abelardo da Silva, tem ainda a neguinha que Caetano pergunta se é, e o neguinho que ele diz que não lê, não vê, não crê, pra quê?/ nem quer saber.

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São neguinhos com minúscula, mítica indesejada do malandro, imagem estereotipada negativa reforçada pelas letras de algumas dessas canções. Mas há os Neguinhos assim, com maiúscula, que passaram à história da música.

TOQUES & TONS 3

Um é o Neguinho do Samba (1955 – 2009), um dos fundadores do pioneiro bloco afro Ilê-Aiyê e da Banda Didá, mestre de bateria do Olodum e criador da última grande contribuição do Brasil ao panteão de ritmos mundial: o samba-reggae.

Outro é o aniversariante do dia 29 de junho: Neguinho da Beija-Flor. Cantor, compositor e, há 40 anos, intérprete oficial da potência carnavalesca que lhe empresta o nome, esse rubro-negro escreveu um samba, “O Campeão (Meu Time)”, cujo refrão é cantado em festas de aniversário, quermesses, karaokês e, principalmente, em estádios brasileiros, por todas (coisa rara) as torcidas, desde o tempo que havia arquibaldos e geraldinos. Domingo, eu vou ao Maracanã / Vou torcer pro time que sou fã/ ... / Porque meu time bota pra ferver/ E o nome dele

são vocês que vão dizer. Curioso foi como Neguinho conseguiu divulgar o samba no Maraca, na grande final do Brasileiro de 1980, Fla 3 a 2 no Atlético Mineiro, jogo de dimensões épicas que deu o primeiro título nacional ao rubro-negro. O técnico de som do estádio também trabalhava no Clube Renascença, onde “O Campeão” já era conhecido e, de combinação com o sambista, colocou a música para tocar antes do jogo no péssimo sistema de som do antigo Maracanã. Como a galera já estava com a letra na mão - Neguinho tinha mandado imprimir e distribuir 200.000 panfletos com a letra nas entradas do estádio - saiu cantando junto. Foi um sucesso instantâneo.

 

Só “O Campeão” já bastaria para garantir o lugar desse nilopolitano ilustre no altar dos iluminados do binômio futebol – música, mas ele ainda compôs sambas emblemáticos como “Sonhar com Rei Dá Leão”, “Malandro é Malandro, Mané é Mané” e outros.

Neguinho da Beija-Flor - 67 anos. Nem parece.

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