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Wilson Batista – O falso malandro

Ricardo Pessanha

 

Houve uma época, lá pelas décadas de 30 e 40 do século passado, em que uma figura dominava o centro boêmio do Rio. Eram os malandros, que usavam “o chapéu de lado, tamanco arrastando, lenço no pescoço, navalha no bolso”, viviam do jogo, pequenos golpes e coisas afins, tudo para não trabalhar. Pois esse era o ideal de vida de Wilson Batista, autor desses versos aí de cima.

TOQUES & TONS 4

Mas, que nada, Wilson Batista sempre tinha um emprego: foi acendedor de lampiões, marceneiro, e teve outras ocupações que lhe deixavam tempo para viver na boêmia da Lapa, Praça Tiradentes e arredores, e se tornar um dos maiores compositores da música popular brasileira. Sim, o cara escreveu uma porção de sambas clássicos que todos conhecemos, mas nunca teve o reconhecimento e a projeção de outros nomes, como o do seu contemporâneo e “rival”, Noel Rosa.

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Sabe aquele samba de breque que o Moreira da Silva (outro falso malandro) imortalizou: “Etelvina, acertei no milhar, ganhei quinhentos contos, não vou mais trabalhar”? Pois é do Wilson em parceria com o Geraldo Pereira. E o seu “duelo” musical com Noel Rosa ficou na história. Incomodado com os versos de exaltação à malandragem, Noel, que nem conhecia Wilson, escreveu uma réplica chamada Rapaz Folgado, mandando a real: “Tira do pescoço o lenço branco / compra sapato e gravata / joga fora essa navalha / que te atrapalha”. Depois houve golpes pra lá e pra cá, entre elas o samba de exaltação a Vila Isabel Feitiço da Vila, mas a história teve final feliz. Wilson e Noel se encontram pela noite, fazem as pazes e um samba para selá-la: Terra de cego.

Mas essa polêmica não foi boa para o Wilson. Perdeu o confronto com o, à época, já consagrado Noel, e teve o seu valor obscurecido. Além de circular pela Lapa e arrumar querelas musicais, Wilson Batista adorava futebol e era Flamengo até morrer. Entre o final dos anos 20, quando chegou ao Rio vindo da sua Campos dos Goitacazes natal, e 7 de julho de 1968, quando pendurou definitivamente o chapéu de malandro, Wilson torceu e vibrou muito com o Mengão.

Testemunhou o primeiro tri (42/43/44), o segundo (53/54/55) e, com a caixinha de fósforos na mão, compôs cerca de 600 músicas, mais de 10 homenageando o clube do coração, e até o Vasco (No Boteco do José). A mais famosa é o Samba rubro-negro, em parceria com Jorge de Castro, aquele assim: "Flamengo joga amanhã e eu vou pra lá / Vai haver mais um baile no Maracanã”. Fez o maior sucesso e virou a trilha sonora do segundo tri.

Em 1979, João Nogueira, outro rubro-negro de quatro costados, atualizou a música, trocando os jogadores do verso original, “O Mais Querido tem Rubens, Dequinha e Pavão”, para “Zico, Adílio e Adão”, versão que hoje é a mais conhecida.

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No início dos anos 2000, Diogo Nogueira, que herdou do pai a voz e o amor pelo clube da Gávea, tentou mais uma atualização, trocando os jogadores para “Souza, Obina e Juan”, mas não colou, por que será?

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Mas, tudo começou mesmo foi com o falso malandro e emérito cronista musical Wilson Batista.

 

SRN, Wilson.

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