Jackson do Pandeiro
Rei do Ritmo
Súdito da Bola
Da Santíssima Trindade da Música Nordestina - Jackson do Pandeiro, Luiz Gonzaga e João do Vale -, Jackson era o bem humorado.
TOQUES & TONS 6

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Ricardo Pessanha
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Esse paraibano de 1919, curtido ao molho de coco, xote, baião, frevo e samba, usava um chapeuzinho engraçado e seus passos de dança arrancavam sorrisos, enquanto cantava e tocava seu pandeiro, sempre com um ar meio de troça. “Se o ritmo é brasileiro, estou dentro”, dizia, e interpretava todos com uma divisão vocal muito particular, daí seu apelido: o “Rei do Ritmo”.
Jackson contribuiu bastante para popularização dos sons urbanos do litoral nordestino, começando pela sua primeira gravação, em 1953, quando convidou “a comadre Sebastiana pra dançar um xaxado na Paraíba”, irresistível coco de Rosil Cavalcanti que Jackson interpretava com malícia contagiante.
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Logo vieram muitos sucessos, entre eles a “Cantiga do sapo”, aquela do “Tião / - Oi! / - Fostes? / - Fui! / - Comprastes? / - Comprei! / - Pagaste? / - Paguei! / - Me diz quanto foi? / - Foi quinhentos réis”. Essa é uma das poucas músicas registradas em nome de Jackson, já que, em geral, ele colocava suas canções em nome da esposa e parceira, Almira Castilho, com quem formou uma dupla de grande sucesso. Aliás, o seu parceiro na “Cantiga do Sapo” é um tal de Buco do Pandeiro, figura misteriosa que muitos creem ser o próprio Jackson.

Tem também “O Canto da ema”, com letra perfeita para o espírito brincante do paraibano, quando diz que “a ema gemeu no tronco do juremá”, o clássicão “Chiclete com banana”, de Gordurinha e Altamira, e o hit que revela o amor de Jackson pelo futebol: “Um a um”, de Edgar Ferreira. “Esse jogo não é um a um / Se o meu clube perder é zumzumzum”.
A letra entrega um autor em cima do muro quando diz “É encarnado e branco e preto / É encarnado e branco / É encarnado e preto”, as cores dos três grandes clubes de Pernambuco – Santa Cruz, Náutico e Sport (e de muitos outros Brasil afora) -, mas Jackson não era desses. Era rubro-negro no Rio, grande fã de Zico, e Treze na Campina Grande da sua adolescência.

Até a sua morte em julho de 1982, gravou dez músicas com temática futebolística. Entre elas “Frevo do bi”, homenageando a seleção canarinho, bicampeã no Chile em 1962, “Olé do Flamengo”, e “A taça era dela”, de Waldemar Silva e Rubens Campos, um samba irreverente que critica a polêmica conquista da Copa do Mundo de 1966 pela seleção da casa, a Inglaterra, com um gol assinalado sem que a bola tivesse cruzado a linha fatal.
Muita gente desceu do nordeste para o Sul Maravilha. Dentre elas, Jackson do Pandeiro foi, com certeza, um dos mais bem-sucedidos. Tem estátua em Campina Grande e João Pessoa, gravou mais de 430 músicas, compôs umas 160, e deixou um legado musical que influenciou meio mundo. Gilberto Gil, Alceu Valença, Zé Ramalho, Zeca Baleiro, Chico Cesar, Morais Moreira,
Dominguinhos, Djavan, Fagner, Lenine são apenas alguns que devem algo do seu som ao do Pandeiro. E talvez a música do homem tenha cruzado fronteiras. Uma vez, Alceu Valença me mostrou as semelhanças entre a divisão rítmica de Jackson do Pandeiro e a música de Elvis Presley. Batendo palmas apenas, ele alternava frases de um coco e de “King Creole”, e elas se encaixavam perfeitamente!
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Vai ver o Jackson da Paraíba, parente rítmico do Rei do Rock ‘n’ Roll, deixou uma porção de herdeiros Jackson nos States, até o Rei do Pop.